Entrevista com entusiastas dessa fascinante língua asiática
Olá! Você, pessoa leitora do blog, talvez já tenha me visto por aqui – “visto” não seria exatamente a palavra, já que não dou as caras, e sim as palavras por esse cantinho virtual -, mas antes falei sobre a minha experiência estudando mandarim e apresentei os meus materiais gratuitos favoritos, os que me auxiliam nessa trajetória maravilhosa que é aprender uma língua tão diferente. Mas deixa eu te contar um segredinho: antes de querer aprender mandarim, meu foco era a língua japonesa (pensei até em estudar MUITO e me tornar tradutora de japonês um dia), mas nessas idas e vindas da vida eu me encantei mesmo pelo coreano.
A história começou em 2012, eu acho, quando o YouTube me indicou um vídeo, um dorama coreano… Bem, aí você já imagina o que aconteceu. Infelizmente, naquela época só conhecia uma pessoa que realmente curtia a Hallyu, a onda de cultura pop coreana, e algumas amigas do colégio também comentavam sobre, mas elas eram mesmo mais interessadas no Japão. Pois bem, me senti meio sozinha nessa missão de coreanizar a minha vida e aprender o máximo que podia sozinha. Lembrando que naquela época não havia tantos materiais disponíveis quanto hoje, ou redes sociais super populares voltadas para quem quer estudar idiomas, pelo menos não que eu tivesse conhecimento ou a coragem de usá-los, de por a cara no sol, de me aventurar de verdade.
Ainda bem que hoje tenho mais motivação e disposição para me jogar nesse mar vasto e misterioso chamado aprendizado de idiomas. Recomendo que pesquise sobre a história do coreano e principalmente a da sua escrita, o Hangeul que é IN CRÍ VEL, sério. Acho que foi um fator crucial para que eu me encantasse pelo idioma, é o quê a mais dele, sabe? Agora deixando minha paixão por história de lado, vamos ao que interessa: a entrevista, feita por e-mail, com as minhas queridas Kathlen Oliveira, Tainá Antunes e Caroline Ferreira.
• Como surgiu seu interesse em estudar idiomas?
Kathlen: Eu não consigo me lembrar exatamente quando isso começou, pois eu sempre tive interesse em estudar idiomas, conhecer novas culturas e tal. Talvez a melhor imagem que surja na lembrança seja quando eu devia ter uns cinco anos e estava na mesinha fazendo minhas refeições sozinha e ficava divagando sobre o que outras pessoas no mundo estariam fazendo naquele exato momento, então eu sentia uma vontade imensa de poder saber o que elas faziam nessas mesmas horas e me comunicar com elas, experienciar um pouco do dia a dia comum delas. Com o passar dos anos, após o avanço tecnológico e o contato recente com LIBRAS fez com que eu refletisse sobre o processo da comunicação e como isso é impressionante, apaixonante e é algo que faz você evoluir como ser humano, ou seja você desenvolve e descobre mais sobre si mesmo e sobre o outro simultaneamente.
Tainá: Desde criança sempre tive vontade de entender o conteúdo que estava consumindo na língua original. A primeira língua que tentei estudar foi o japonês; cheguei a aprender hiragana e katakana, mas não tinha muita disciplina e isso ficou meio esquecido.
Como sempre gostei muito de literatura, não demorou muito pra ir testando o meu inglês por conta própria, tentando ler alguns livros ou lendo fanfics. Mas a primeira língua que estudei por um longo período foi o francês; eu gostava de escutar algumas músicas em francês e sempre tive facilidade para decorar as letras, mas na literatura russa (pois é) encontrava longos diálogos em francês, e a sede de entender sem recorrer ao tradutor me tomou. Depois disso, por motivos parecidos, fui estudando norueguês, russo, e italiano, mas sem a mesma persistência e disciplina do coreano e francês.
Caroline: Eu gosto de sons, diria que começou por aí. Quando era pequena gostava muito de ouvir músicas em espanhol e na pré-adolescência senti muita vontade de aprender inglês, em parte pelas músicas e séries que eu gostava, mas também por como o idioma soa. Os sons e entonações das línguas quase sempre acabam sendo o que me interessa primeiro.
• Quando você decidiu aprender Coreano e por quê?
Kathlen: Decidi aprender coreano em 2020. Fazia um ano que eu havia começado a assistir K-dramas e como era algo que eu gostava de gastar minhas horas livres, considerei investir esse período aprendendo algo novo, produzindo e desenvolvendo uma habilidade totalmente diferente até o final do ano. Várias vezes tentei me cobrar, porém toda vez eu me incentivo a aprender devagar e no meu ritmo, pois eu também estudo inglês e esse é o idioma priorizado no momento. Vale ressaltar que eu priorizo o inglês exatamente pra estudar coreano, afinal a quantidade de materiais de estudos não apenas desse idioma, mas de vários outros em inglês, é muito maior, ou seja, estudar inglês se tornou um motivo pra aprender mais idiomas.
Tainá: Foi muito por acaso; uma série foi recomendada na Netflix, e sinceramente não dei muita bola no primeiro episódio e quase não continuei, mas o tédio do momento me fez prosseguir e prestar atenção primeiro na estética visual da série e dos personagens, depois na forma engraçada com que eles se expressavam, e por último (aqui de fato o motivo) a caligrafia da protagonista em um bilhete logo no primeiro ou segundo episódio. Fiquei encantada, achei a escrita muito bonita e delicada e fui pesquisar sobre o hangul.
Caroline: Decidi aprender no final de 2015 / início de 2016, embora tenha congelado ele por um ano depois disso. Eu estava vendo um documentário sobre brasileiros morando no Japão quando vi um sobre a Coreia do Sul, achei interessante e decidi assistir. Naquela época eu nem conhecia nada sobre a Coreia direito, mas a forma como os coreanos interagiam com as pessoas e os pequenos trechos em que eles falavam me chamaram a atenção. Sem perceber, comecei a ver o documentário todos os dias e a pesquisar mais sobre a cultura e o país. Depois de aprender o alfabeto, decidi que gostaria de continuar aprendendo a língua.
• Quais os aspectos da língua coreana mais te atraem?
Kathlen: Gosto da sonoridade diferente, o sistema do hangeul cuja praticidade é impressionante, a cultura que a língua manifesta é incrível.
Tainá: Acho que basicamente todos. Gosto da forma simplificada de escrever e a maneira como as palavras soam. A maneira como é estruturada também é muito curiosa, apresentou um desafio no começo, mas as vantagens em relação a outras línguas para mim foram muitas… Como por exemplo, a estrutura estável do verbo mesmo quando mudamos de pessoa, ou do singular para o plural, a ausência de gênero na maior parte das estruturas gramaticais. Mas acho que principalmente amo escrever em coreano.
Caroline: Gosto muito dos níveis de formalidade e da estrutura da língua. Poder cortar alguns elementos de uma frase e ainda assim fazê-la ter total sentido me fascina bastante. Os contadores também chamaram a minha atenção e os dois sistemas de números.
• Quais aspectos da língua coreana você gostaria que fossem de outra maneira?
Tainá: Acho que a parte que mais incomoda são os níveis de formalidade; podemos dizer que são três, e cada qual tem palavras e estruturas muito particulares.
Caroline: Talvez as várias palavras para a mesma coisa. Embora eu goste muito dos níveis de formalidade, ter que aprender várias palavras pra dizer a mesma coisa além da conjugação pode ser um desafio e tanto. E a similaridade de algumas palavras e estruturas, às vezes elas aparecem em tantos lugares que quase dá um nó na cabeça.
Kathlen: Não gosto muito de pensar sobre outra maneira de algo que carrega características pessoais e exclusivas de um povo. As particularidades dos idiomas e seu processo de assimilação é o que torna tudo mágico, no caso, o fato de ser diferente e agir por conta própria, afinal a língua é viva. Mas para não fugir do tema e ser sincera com meus sentimentos, confesso que é diferente o uso de honoríficos além da formalidade e graus de hierarquia o que talvez, em contrapartida, seja um balanço em relação a quantidade de tempos verbais e conjugações das pessoas que temos em português.
• Por que a cultura coreana te atrai?
Tainá: A cultura japonesa sempre me atraiu pela estética quando era criança. Acho que o que mais chama atenção na coreana é a mesma coisa… A questão da disciplina, simplicidade, clareza em definições de objetivos e filosofias de vida; a poesia e o ritual misturados com o cotidiano são encantadores. Mas, orientalismos à parte, a culinária é um aspecto cultural muito forte na Coreia, coisa de que eles não abrem mão na hora da representação. Não tive ainda a oportunidade de experimentar nada, mas me atrai bastante.
Caroline: Deve ser por ser tão diferente das coisas a que eu já estava acostumada. E porque faz eu me sentir bem no meio mesmo com respeito aos valores, crenças, costumes e tudo o mais. Tem coisas com as quais concordo bastante e outras que repudio e chocam direto com o que eu defendo. Essa sensação de pender um pouco para um dos lados e ao mesmo tempo não sair tanto do meio…
Kathlen: Gosto da forma como produzem entretenimento, da história e gosto do desafio do contato com o novo e diferente do meu modo de pensar ou ver o mundo.
• Qual a sua maior motivação para estudar o idioma?
Tainá: Poder ler a literatura coreana, escutar músicas, assistir vídeos, filmes e séries sem precisar de um intermediário é a minha maior motivação, mas também considero a parte da socialização bastante importante, embora não tenha muitas oportunidades de conversação.
Kathlen: Os K-dramas e o K-pop são meus pontos favoritos de contato, mas estou entrando, lendo livros coreanos recentemente e estou amando. Tenho uma amiga coreana e gostaria de me comunicar melhor com ela, além disso, a cada estudo aprendo algo novo. É um processo divertido.
Caroline: A língua por si só é uma grande motivação, o coreano é um idioma bem divertido de se estudar – e que soa bem bonito também. Consumir coisas na língua (seja dramas, filmes, músicas, vídeos, quadrinhos…) também me motiva muito.
• Você tem alguma dica para dar aos estudantes de coreano?
Kathlen: Não focar apenas em K-dramas ou K-pop e sim expandir o contato com a cultura, pois há uma Coreia inteira a se descobrir através de poemas, literatura, outros estilos musicais, religiosos e tecnologia. Comunicação com nativos é fundamental pra qualquer idioma e principalmente, não tentar comparar sua cultura e forma de ver o mundo com os outros, usar seu preconceito pra destravar mais conceitos e construir várias ideias novas e revolucionárias. O processo de aprendizado de idiomas é um caminho a ser apreciado, apaixonado e refletido, assim você pode adquirir muito mais que um idioma falado.
Caroline: Equilibrar o aprendizado de vocabulário e gramática. Pelo coreano ter várias estruturas que podem dizer coisas parecidas com nuances diferentes, a gente acaba sentindo que precisa pesar na gramática, mas aí falta o vocabulário. Aprender várias palavras soltas por causa dos níveis de formalidade e não conseguir formar frases também pode ser uma dor de cabeça. E aprender por contexto! Mesmo se duas palavras significarem a mesma coisa em nossa língua, os coreanos ainda vão usá-las de maneiras levemente diferentes.
Tainá: Acho que ficar forte nos básicos da língua é sempre muito importante. Algumas dicas de ouro que posso dar são: a romanização mais atrapalha do que ajuda – definitivamente não perca seu tempo aprendendo a romanização, aprenda hangul, associe os sons das vogais e consoantes com os sons que você já conhece. A romanização é uma padronização falha e incompleta. A segunda coisa é, dê muita atenção às regras de batchim (consoantes) – isso vai te ajudar a entender porque que algumas palavras são escritas de tal forma mas pronunciadas de uma maneira diferente e, além de tudo, ajuda a não cometer muitos erros na hora da pronúncia no geral. A terceira coisa é: de início, invista no vocabulário básico – assistir séries definitivamente é, para mim, a melhor maneira de adquiri-lo, mas existem inúmeras formas de aprendê-lo sem recorrer às formas tradicionais e entediantes a que estamos acostumados, e que exigem mais esforço do que as maneiras mais lúdicas de aprendizado.
• Você aceita que eu te entreviste novamente no futuro para que possamos reavaliar as respostas? Para que possamos ver o que mudou e comentar as experiências novas que teve?
Tainá: Claro!
Caroline: SIM!
Kathlen: Sim, claro. Vou adorar falar de uma das coisas que mais amo e espero poder aprender muito mais coisas daqui até lá. 고맙습니다!
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